sexta-feira, junho 24, 2005

O menino das sandálias azuis



As vezes proponho-me a mim mesmo, no meio de longas conversas de angustia e depressão que eu tenho com a minha consciência, escrever textos que tenham o brilho de um sorriso, que tenham o calor de um abraço… Aquele texto que nos dê a sensação de uma festa que a nossa mãe nos dava quando nos magoávamos na brincadeira

Acho que a inspiração teria de surgir do meu tempo de menino, quando corria atrás de bichos-de-conta… e fazia estradas para as formigas… tive a oportunidade de passar a minha infância numa vivenda, mesmo que nos arredores da grande metrópole, Lisboa, mesmo assim tinha acesso aqueles momentos lindos que me marcaram na infância e nunca os vou apagar da memoria, como o cheiro a terra, o cheira da erva molhada quando chovia as ameixoeiras em flor… e as brincadeiras que daí advinham, como roubar figos, brincar à agricultura, subir arvores…

Agora que penso, lembro-me de tantas brincadeiras que eram feitas na companhia da solidão, acho que devo ao facto de ser filho único a minha criatividade, aprender a brincar sozinho, fazer o bom e o mau, jogar para uma equipa vencer e outra perder… isso molda a personalidade de uma pessoa… cria sonhos, cria carências…

Mas é no tempo de menino, que mais sonhamos, que mais ingénuos somos, que mais nos rimos, rimos de bem-estar, de um abraço dos pais, de um arroz-doce da avó, de um chupa-chupa do senhor do café, dos desenhos animados… Aqueles que todos acordavam bem cedo para os ir ver… quem não se lembrar de ficar à espera que a televisão começasse a emitir para ver os desenhos animados, com aquele fundo preto com umas listas coloridas à frente… depois tocava a musica da SIC que sabia de cor, e começava uma autentica maratona de boa disposição e grandes lições para a vida… Ao falar de séries televisivas e da minha meninice lembro-me da rua sésamo, o tanto que eu tenho a agradecer ao conde de contar… de longe o meu preferido… e as musicas como a “eu gosto de sopa...”

Ter sido uma criança, foi das melhores coisas que me aconteceu na vida.

Assim pinto um quadro com cheiro a caramelo, e tons de um amarelo forte, igual ao sol que brilha lá fora, no pátio onde eu fui astronauta e mosqueteiro do rei, onde tudo era possível, e o bem vencia sempre.

1 Comments:

At 2:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Aqui 'na minha terra' há um monumento ao Soeiro Pereira Gomes e uma placa dedicada "aos homens que nunca foram meninos"... Lembrei-me disso agr ao ler o teu post. Tenho tantas boas memórias da minha infância e quase nunca lhes dou o devido valor... Queria ter a inocência e uma certa inconsciência que tinha então... Se há pessoas boas, completa e desinteressadamente boas, são as crianças. Acho que muitas vezes deviam ser elas a ensinar algo aos 'mais velhos'...
Enfim... gostei da ternura do teu post... é, de facto, de deixar um sorriso e uma grande nostalgia cor-de-rosa (lol) nos leitores :)

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