domingo, agosto 21, 2005

O Poeta Pintor

Num quarto perdido do resto do mundo, um poeta pintor vê a luz de um por do sol de verão tocar na sua tela. Aconchegado pelos tons laranjas, que o aquecem e preenchem vazios dentro de si, encontra-se novamente a pintar, pinta poemas… poemas que não rimam, em que não existem linhas rectas, onde o pincel vagueia pela tela ao sabor do criador. Palavras surgem na tela em forma de desenhos ou simples rabiscos, são belas frases, é bonita a pintura… Possui as cores mais belas do mundo, que o poeta guarda no seu estojo de pinturas, embrulhado num lenço de veludo de cor carmim… São cores que o poeta pintor guardou do sorriso de uma criança, do beijo da sua primeira namorada, das lágrimas que derramou no funeral do seu pai, são cores que o poeta nunca mais esquecerá, são estas cores que agora ao sabor do pincel vão preenchendo o belo quadro…
Há dias que o poeta pintor se encontra de pé, de frente para a tela, perdendo-se … numa obra que já não é mais uma criação, mas sim uma companhia, uma descoberta, um encontro com algo que só o poeta pintor conhece… algo que só o poeta pintor seria capaz de sentir, compreender… algo que só as cores mais belas do mundo lhe poderiam proporcionar

Esta noite, o poeta pintor vai dormir, porque será apenas mais uma noite…

2 Comments:

At 1:08 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A tua escrita nessa simplicidade que no seu âmago é uma enorme complexidade interior, recordou-me o Al Berto que tu tanto admiras.

A frase final, no entanto, foi o que mais me fascinou...

 
At 11:01 da tarde, Blogger Wilson Leite said...

Não somos todos pintores de nossas vidas?... podemos até nem saber que guiamos o pincel, ou que as cores que dele saem não colorem como queremos, mas tingem divinamente o quadro que vivemos... basta saber observar... basta sentir... provar...
Lindo o seu poema. Lindo.

 

Enviar um comentário

<< Home